terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Timothy O'Riordan veio à Gulbenkian


Foi um fim de tarde diferente. Durante cerca de 40 minutos, dezenas de pessoas ouviram falar sobre uma nova forma de pensar a sustentabilidade. Timothy O'Riordan não falou da necessidade de poupar electricidade nem da reciclagem. Foi ao fundo de uma crise que é mais humana do que ambiental. Falou desta era de transição para um mundo mais sustentável, numa época em que a Terra já não é assim tão natural. Dos "tipping elements" - sistemas naturais que podem entrar em colapso. De como nos devemos comprometer uns com os outros e com a Natureza. Da necessidade de redefinirmos os nossos conceitos de segurança e de felicidade. De ter tempo para pensar, para sentir que fazemos parte de algo, para criarmos uma nova forma de pensar e não darmos nada como garantido. Da responsabilidade que temos para connosco e com os outros. De como ser sustentável pode ser empolgante. De ser altruísta. De agirmos porque gostamos e não porque somos obrigados a isso. Da importância de saber mais coisas para perceber melhor o que estamos a fazer. De escolas como laboratórios de sustentabilidade. De ter um contacto directo com a Natureza, todos os dias. De olhar para o céu. De como é bom sermos criativos e inovadores.

Só deixou um apelo: que amanhã acordemos com um pensamento novo.

As suas palavras deram alento: um pouco por Portugal há pessoas a agir. Isso inspira. São as flores no deserto.

Nota: Timothy O'Riordan é professor da Universidade de East Anglia e participou na conferência "Preparando a Sociedade e o Ambiente para a Sobrevivência Global", na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Cara Magda,

De facto o Prof. Timothy O'Riordan tem toda a razão, a actual crise é mais humana do que ambiental. Na minha opinião estamos a viver uma crise cultural que reflecte as ideias falaciosas que os humanos fazem da natureza da sua própria condição e do lugar que ocupam na árvove genealógica da vida.

Essa é a essência da questão, qual o papel que o ambiente sócio-cultural desempenha na formação da identidade cultural colectica e individual? Instrumentalização da pessoa humana e conformidade sócio-cultural.
Qual o papel social da crença na obediência?
Quem e como é determinada a legitimidade do poder e da autoridade?
Porque se agarram as pessoas a falsas tábuas de salvação, em vez de criar sinergias e formar grupos, movimentos de resistência e acção?
Porque nos deixamos enredar na teia do infoentretenimento e da virtualidade real?
O frenesim superficial é enganador, na verdade, as pessoas são induzidas a adoptar atitudes passivas, a contestação, a irreverência tem lugares próprios, temas escolhidos e imagens icónicas para seguir, prevalece a lógica da obediência, desvaloriza-se a lógica da participação, do pensamento autónomo, da valorização do indivíduo desligado da sua condição socioprofissional.
É absolutamente imprescindível estimular a democracia participativa para ultrapassar os desafios da sociedade glocal (local e global). As pessoas concretas continuam a viver em espaços de lugares numa sociedade globalizada ligada em rede (espaço de fluxos)uma situação nova e transversal, que não pode ser ignorada e/ou negligenciada.
Caso saibam da existência de, ou pretendam criar algum movimento, que possa de algum modo contribuir para um novo modo de pensar a participação individual na sociedade, estou à disposição. (rdrg_ribeiro@yahoo.com)

Saudações Cordiais
Rodrigo Ribeiro